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Foto do escritorAntónio Roma Torres

A Idade Maior - Teresa Villaverde (1991)

POR UM TRIZ

 

A Idade Maior, Teresa Villaverde, Portugal, 1991

António Roma Torres, A Grande Ilusão, 20

 

A IDADE MAIOR não é um filme perfeito, mas nem isso é preciso para que constitua um filme a aplaudir e a discutir com interesse.

 

Alex (Ricardo Colares) é um adolescente, precisamente na idade em que muitas coisas se compreendem sem que os adultos de maior idade disso pareçam suspeitar. A IDADE MAIOR mostra como a juventude é um percurso solitário. Alex vive o absurdo de uma guerra injustificável em certo sentido aceitando o destino, convivendo com ele duma forma quase mágica, como a sociedade que o rodeia no tempo da ditadura e da guerra colonial. Por isso ele faz figas ao despedir-se do pai e repete o gesto numa das cenas mais bonitas do filme quando, contra toda a lógica, alimenta a esperança de que seja o pai o soldado cujo regresso se festeja na sua aldeia. De certa maneira o filme é ainda a imagem do país depressivo, em que a revolta dificilmente se organiza para o exterior, mas tende a enquistar-se e caminhar para a autodestruição, como no caso dos pais de Alex.

 

Teresa Villaverde parece habitar a tristeza do seu filme, à beira de um abismo que se sabe capaz de superar. «Hoje gosto mais de viver que qualquer outro homem da minha idade.» «Sei que por um triz se pode morrer. Tanto o ódio como o amor podem matar. Mas é preciso andar para a frente e rir quando a barriga nos aperta e temos vontade de chorar».

 

A IDADE MAIOR é um filme que olha para além dos limites de uma herança pesada, como Alex na aventura solitária na noite lisboeta. fugido de casa da tia com o fato novo, formal, acabado de comprar num ritual familiar de renovação, ou quando se debate numa ruptura controlada, interiorizada, amadurecida, a propósito das atitudes da amiga a quem morrera um irmão na guerra («dizem que foi corajosa porque voltou às aulas no dia seguinte... se fosse muito corajosa nunca mais ia às aulas»).

 

O clima emocional de A IDADE MAIOR evoca num certo sentido UM ADEUS PORTUGÊS de João Botelho ou MANHÃ SUBMERSA de Lauro António na «pequena dor à portuguesa tão mansa quase vegetal» de que falava Alexandre 0'Neil.

 

Infelizmente Teresa Villaverde hesita e acaba por descentrar o filme da vivência do miúdo para a da mãe (Teresa Roby). E se na primeira parte o filme se pontua num imaginário juvenil, e na relação com o pai ausente, numa terra distante que ao mesmo tempo se sonha e se teme, e de onde chegam cartas que se têm pacientemente que decifrar, o regresso do pai (Joaquim de Almeida) vai fechar o filme, metê-lo numa crise conjugal, próxima, mas silenciosa. vivida numa imensa tristeza a que a subtil interpretação de Teresa Roby dá uma dimensão incontornável. O facto é que traumatismos psicológicos da guerra, ciúmes, atitudes agressivas, e dificuldades de diálogo não chegam a organizar-se de uma forma dramática e Teresa Villaverde revela uma dificuldade que parece só resolver-se pelo duplo suicídio final. A primeira parte de A IDADE MAIOR funda-se precisamente numa espécie de instinto de sobrevivência infantil, que dá todo o sentido ao título, mas a inflexão do percurso centrando a acção nos pais deixa-se contaminar quase completamente pelo abatimento.

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