Nós Por Cá Todos Bem (...) é um filme interessante, extremamente pessoal na medida em que Fernando Lopes apenas pôde fazer três filmes em 20 anos, tendo que reivindicar o direito de fazer experiências para acertar a pontarla.
Fernando Lopes apresenta-nos um filme que merece ser visto (...) mas que se afigura algo falhado em pontos da formulação estética. Assim se algumas cenas de ficção são muito interessantes, afinal todas de um erotismo reprimido que associa o itinerário na capital de uma criada de servir, às histórias exemplares de uma Santa Maria Goretti ou aos primeiros passos na vida sexual de um jovem, o filme não explora a contraposição de vários níveis de ficção como acontecia em Uma Abelha na Chuva, mas joga ambiguamente na contraposição documento/ficção com alguns passos em falso que são infelizmente momentos fortes do filme como o almoço da equipa de filmagens ingenuamente inscrito como uma realidade transparente ou a entrevista com a camponesa beirã que é a própria mãe do realizador onde são escamoteados os pressupostos de algumas perguntas que vão condicionar largamente as respostas que parecem inscritas no filme como uma reflexão sobre os momentos políticos após o 25 do Abril e seu reflexo contraditório na consciência popular de uma população rural.
A. Roma Torres in Jornal de Notícias, 5/9/1977 (reportagem do Festival de Cinema da Figueira da Foz)
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