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Foto do escritorAntónio Roma Torres

A OUTRA MARGEM - LUÍS FILIPE ROCHA (2007)

Pela quarta vez, em anos sucessivos, o Centro Hospitalar São João organiza um ciclo “Cinema Saúde Doença”. Pretende-se a exibição de obras de cinema que de alguma maneira se destacam enquanto arte, mas simultaneamente permitem introduzir o debate sobre temas ligados com a prática hospitalar, onde se cruzam profissionais de saúde e utentes e suas famílias. Assim desde o início se definiu como palavras-chave “médico”, “enfermeiro”, “doença” e “hospital” em torno das quais se organizou um grupo inicial de cem filmes (Catálogo Cinema Saúde Doença, Hospital São João/Cinemateca Portuguesa, 2010, pgs 16-99).

Este ano os cinco filmes escolhidos evidenciam uma realidade que se associa quase inevitavelmente à doença, que é o luto, ou seja, a tentativa de reparação de uma perda. Por outro lado, de maneiras diferentes, também expressam uma constante da natureza humana que é a representação, isto é, de certa maneira a cena que se propõe enquanto actuação de um papel, que nos vincula com o outro e no entanto exerce um inevitável efeito de plateia.

Como habitualmente, marcarão presença filmes de diferentes épocas e diferentes nacionalidades, mas na realidade apenas dois não são norte-americanos (embora O Discurso do Rei seja anglo-saxónico e com sucesso manifesto nos Óscares da Academia de Hollywood), e apenas um é anterior à última década.

Ao longo dos ciclos o cinema português tem tido uma atenção especial. Na sequência de Domingo à Tarde de António Macedo e O Dia do Desespero de Manoel de Oliveira, exibidos em anos anteriores, este ano teremos A Outra Margem de Luís Filipe Rocha.

(…)

A Outra Margem é também um filme que oscila entre a auto-destruição e o luto.

A primeira sequência monta em paralelo o espectáculo de travesti e o forno crematório, mostrando a angústia de Ricardo perante o suicídio do namorado.

O filme torna-se mais sugestivo na frágil fronteira entre a diferença e a doença e do fácil cruzamento que confunde os territórios quando se introduz o outro personagem forte, o seu sobrinho Vasco, portador duma síndroma de Down.

Entre o suicídio, a SIDA, a identidade de género e a orientação sexual e a solidão afectiva e sexual, por um lado, e os laços familiares que dão suporte nas situações de luto ou que permitem lidar com as incapacidades, por outro, Luís Filipe Rocha move-se na procura do que é comum a todo o ser humano.

A Outra Margem é ainda um filme de palco, do night club ao comovente grupo de teatro de portadores de síndroma de Down, onde a representação é o lugar da transcendência (“no teatro eu posso casar”, diz-nos Vasco).


António Roma Torres in 4º Ciclo Cinema Saúde Doença, org. Centro Hospitalar São João, 10-4 a 15-5 de 2012

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Este é um blog sobre cinema, particularmente sobre os filmes portugueses entre 1972 e a actualidade e os filmes em exibição nas salas de cinema portuguesas

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